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Homenagem em forma de contraponto prestada a O Estrangeiro, de Albert Camus, Meursault, contra-investigação joga vertiginosamente com os duplos e as falsas aparências para evocar a questão da identidade. Aplicando esta reflexão à Argélia con- temporânea, Kamel Daoud, conhecido pelos seus artigos polémicos, elege desta vez a literatura para traduzir a complexidade das heranças que condicionam o presente.
Ele é o irmão do "Árabe" morto por um certo Meursault cujo crime é relatado num célebre romance do século XX. Setenta anos depois dos acontecimentos, Haroun, que desde a infância viveu na sombra e na lembrança do ausente, não se resigna a deixá-lo no anonimato: volta a dar um nome e uma história a Moussa, morto por acaso numa praia demasiado ensolarada. Haroun é um homem velho atormentado pela frustração. Noite após noite, num bar de Orão, rumina a sua solidão, a sua cólera contra os homens que tanta necessidade têm de um deus, a sua confusão face a um país que o decepcionou. Estrangeiro entre os seus, preferiria morrer, enfim...
Kamel Daoud, nascido em 1970 em Mostaganem, Argélia, é um escritor e jornalista no "Quotidien d'Oran", onde desde há doze anos mantém a crónica mais lida na Argélia. Vive em Orão e é atualmente objeto de uma fatwa. "Mersault, contra-investigação" é o seu primeiro romance mas apesar disso disputou até à votação final o prestigiado prémio Goncourt em 2014. Viria depois, em Maio último, a receber o prémio Goncourt do Primeiro Romance 2015, fazendo de Kamel Daoud um dos mais promissores escritores em língua francesa da atualidade.
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