Delitos

Bastaria ler avulsamente um ou outro texto de Delitos, para perceber que estamos perante o primeiro trabalho de um autor a merecer atenção. A ironia com que anota alguns sinais de civilização (e leia-se, por exemplo, "Cães" ou "Vaca"), os modos como surpreende e significa elementos do imaginário (tanto a água como o fogo), o tecido das linguagens e a capacidade associativa dos jogos metafóricos, a oscilação dos momentos entre “‘prosa” e “verso” configurando a infixação dos campos, o sarcástico apontamento curto ou epigramático (e leia-se, por exemplo, “Perfilhação”), a ausência do tom “lírico” que é normalmente o vício da nossa poesia, o deixar permanecer os textos no tom implicativo de uma suspensão serenamente violenta, são, entre outras, modulações destes flagrantes Delitos.