As Edições Afrontamento publicam desde 1963 e, desde outubro de 2022, estão sediadas no Porto, na Rua de Santa Catarina, 895, 2º Dtº. Editora de carácter generalista mas com uma importância acentuada no campo das Ciências Sociais e Humanas. No nosso catálogo podem também encontrar-se livros de ficção, poesia, literatura infantil, arte, guias, matemática, filosofia, música, cinema, fotografia e ciência. São chancelas do Grupo Edições Afrontamento a Teodolito e a Aliados Edições. O Grupo Edições Afrontamento integra ainda a Gráfica Rainho & Neves e a distribuidora Companhia das Artes.

Os anos fundadores

Editora cujas origens remontam a 1963, com o lançamento da coleção de antologias “Afrontamento”, publicada no Porto por um grupo composto de “jovens católicos progressistas, que tinham uma perspetiva mais atuante da religião no campo social, e gente de esquerda não conotada com o Partido Comunista”(*). Os livros eram coordenados e editados por Pedro da Conceição Francisco, jovem provindo da Guiné- Bissau em maio de 1966 e desde há muito ligado à JUC [Juventude Universitária Católica] do Porto. Este grupo editou ao ritmo de um livro por ano até 1968, com uma estrutura amadora e semiartesanal. Os títulos publicados nesta série foram: "Ao encontro da pessoa", de Emmanuel Mounier e Jean Lacroix (1963); "O homem invisível", de Pablo Neruda (1964); "Do Integrismo ao Nacional Catolicismo: os católicos e as direitas", de Louis Davallon, P. A. Liège, M Garrigou Lagrange, Louis Guinchard e Yves Congar (1965); "O Plano Langevin-Wallon para a reforma do ensino" (1966); e "Iniciação à teoria económica", de Ernest Mandel (1968). Os livros desta coleção traziam na contracapa a seguinte frase, de Emmanuel Mounier, que resumia o espírito que motivava os seus editores: “Quando a desordem se torna ordem, uma atitude se impõe: afrontamento”.

Em 1967 o grupo em torno da Afrontamento amplia-se e busca dar início a uma nova fase de publicações. Nesse momento, alguns dos membros do grupo são Pedro Francisco, Mário Brochado Coelho, Raúl Moura, Pedro Barros Moura, José Leal Loureiro, Eneias Comiche, Machado Cruz, Artur Castro Neves, Arnaldo Fleming, José Carlos Marques, Eugénio Furtado, Gaspar Barbosa, Bento Domingues, David Miranda, César Oliveira, José Soares Martins (que utilizava o pseudónimo de José Capela), Júlio Pereira e António Melo. Várias dessas pessoas atuavam na cooperativa cultural Confronto, criada no Porto em 1966. Desse esforço surge a coleção Textos Afrontamento, também coordenada por Pedro Francisco, cujos dois primeiro títulos são: "Mas socialismo porquê?", de Albert Einstein (1968); e "Vietnam: a oposição à guerra nos EUA. Programa da Frente Nacional de Libertação do Vietname do Sul" (1969). 

Até este momento, a estrutura editorial e comercial existente em torno da Afrontamento era amadora, militante, o que criava algumas limitações para a produção e circulação dos livros editados. É em 1971 que se inicia efetivamente a segunda etapa da atuação do grupo, com o incremento das edições e a sua ampliação. É a partir de então que de facto se pode falar numa Editora Afrontamento, com coleções diversificadas de livros, constância nos lançamentos e uma melhor estrutura comercial, mais profissional. José Sousa Ribeiro, que era nessa época um jovem estudante de economia na Faculdade do Porto, aproximou-se do grupo por afinidade, acabando por ser, pouco depois, profissionalizado pela então embrionária editora, ocupando-se da produção dos livros e da sua venda para as livrarias.

A nova fase da editora começa com a iniciativa do advogado Mário Brochado Coelho, um dos membros do grupo Afrontamento, de editar um livro sobre o processo judicial contra Joaquim Pinto de Andrade, militante da luta anticolonial que estava preso em Angola. Aproveitando o facto do processo jurídico ser público, Brochado Coelho decidiu publicar as peças desse processo em livro, dando origem à obra "Em defesa de Joaquim Pinto de Andrade", em julho de 1971. “No blackout de informações que havia na época, essa era uma forma de furar esse bloqueio. Este livro teve uma grande difusão e saiu com a chancela Afrontamento” (*). O sucesso de vendas desse livro – que teve uma tiragem de 20 mil exemplares – e o entusiasmo que ele gerou, levaram a que se começasse a estruturar melhor essas atividades e que se evoluísse para um empreendimento mais organizado. Os recursos obtidos com o livro foram cedidos por Brochado Coelho e serviram de base para o incremento das edições, que passaram a um ritmo acelerado. Apenas em 1971 foram pelo menos seis títulos, editados entre julho e dezembro. Em 1972 e 1973 foram cerca de dez títulos por ano. Eis alguns títulos publicados nestes anos: "Encontro. Alguns aspectos da religião tradicional discutidos pelo povo de Macieira da Lixa", coordenado por Mário Pais de Oliveira (1971); "O socialismo crítico de hoje: Teses de “Il Manifesto” " (1971); "Ocupação do Bairro do Bom Sucesso em Odivelas por 48 famílias de barracas", coordenado por José João Louro (1972); "Presos políticos: documentos 1970-1971", editado pela Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos e por Armando de Castro, Francisco Pereira de Moura e Lindley Cintra (1972); "A dominação inglesa em Portugal", de Armando de Castro (1972); "Pedagogia do oprimido", de Paulo Freire (1972); "As greves selvagens na Europa ocidental" (1973); "Luta de classes e instituições burguesas: o debate sobre as eleições legislativas em Itália 1972", do grupo “Il Manifesto” (1973). Foram lançados também sete volumes da coleção Movimento Operário Português, entre os quais: "O congresso sindicalista de 1911", organizado por César Oliveira (1971); "O movimento operário em Portugal", de Campos Lima (1972); "O sindicalismo em Portugal", de Manuel Joaquim de Sousa. (1972); "O socialismo em Portugal, 1850-1900", de César Oliveira (1973).  A coleção As Armas e os Varões lançou dois títulos: "Moçambique pelo seu povo", organizado por José Capela (1971); e "O vinho para o preto: notas e textos sobre a exportação do vinho para África", também de José Capela (1973). 

A editora aproveitou-se do facto que, enquanto a imprensa periódica estava sujeita à censura prévia, os livros estavam sujeitos a uma censura a posteriori. Portanto, podia-se publicar fosse o que fosse, embora o destino de muitas das coisas que se publicavam fosse a apreensão pela polícia política. Os títulos publicados nesses anos têm marcadamente um carácter de oposição ao governo de Marcelo Caetano, com forte ênfase em temas relacionados com a luta anticolonial. Merece destaque a coleção Bezerro D’Ouro, cuja característica era reproduzir nos seus volumes peças jurídicas de processos contra oposicionistas: pedidos de habeas corpus, medidas de segurança, reprodução da legislação em vigor, autos de interrogatório, acórdãos de tribunais, etc. Tratava-se, portanto, de documentos oficiais, o que tornava embaraçoso para o governo a sua censura. Foi, sem dúvida, um subterfúgio inteligente, apesar de boa parte desses livros ter sido posta “fora de mercado”, ou seja, foram censurados ou apreendidos da mesma forma. Todavia, a censura ou a apreensão não significavam, na maior parte dos casos, que os livros efetivamente deixavam de circular, como veremos adiante. Os livros da coleção Bezerro D’Ouro foram um êxito, venderam milhares de exemplares. Isso colocou a necessidade de uma organização mais profissional para a editora. “Mas no fundo era eu [José Sousa Ribeiro] e mais dois ou três colaboradores que tratávamos tudo” (*). 

O sucesso dessa e de outras coleções da Afrontamento, tornou a editora rapidamente conhecida em todo o país. Nessa segunda etapa, alguns dos católicos progressistas “foram-se afastando do catolicismo, passando a engrossar as fileiras de uma esquerda não filiada nas organizações políticas clandestinas que existiam. Era um grupo muito marcado pelas questões anticoloniais” (*). De facto, nessa etapa, esse foi o ponto forte do combate político da editora: “Aquilo que afrontava mesmo ao regime de maneira radical eram as questões coloniais. E fomos radicais nisso”

A definição das coleções e dos títulos publicados era feita de acordo com o projeto mais amplo da editora e com as afinidades dos membros do grupo. A coleção Bezerro D’Ouro foi dirigida por Mário Brochado Coelho; José Soares Martins (José Capela) coordenava a coleção As Armas e os Varões, sobre a história da exploração e da resistência nas colônias; César Oliveira fez uma coleção de história do movimento operário português. Já a coleção Saco de Lacraus foi iniciativa de José Leal Loureiro e José Carlos Marques e “procurava fornecer pistas e novas perspectivas sobre o processo de construção do socialismo e da realidade soviética”. José Carlos Marques criou, já em 1974, a coleção Viver é Preciso, de ecologia (“Uma colecção inteiramente dedicada à análise do modo de vida em regime capitalista e ultra-industrialista”, segundo a definição da editora em textos de divulgação da coleção). Além disso, sempre havia propostas de fora que a editora recebia. 

César Oliveira [em obra publicada], destaca que: “Na distribuição das edições da Afrontamento, sobretudo no Centro e Sul do país, é mais do que justo salientar o papel desenvolvido pela Assírio & Alvim (José [Antunes] Ribeiro e Mário Reis)”. E salienta também o carácter combativo das publicações: “A maioria das edições vibrava golpes no cerne do Estado Novo, a guerra colonial (ou seus efeitos) e o apoio às práticas heterodoxas de certos setores da Igreja portuguesa”. É nessa fase que a Afrontamento se torna efetivamente uma editora e vai se estruturando de uma forma mais profissional. Em janeiro de 1973 é criada a primeira sociedade comercial por cotas e uma distribuidora de livros, com nove sócios. Uma sede foi alugada e a editora passou a ter alguns funcionários. “Até então era uma coisa informal, tudo era feito como edição do autor” (*). O recurso à “edição do autor” ocorria devido aos riscos existentes na edição de livros de oposição ao regime: “Estávamos conscientes de que a atividade do ponto de vista político era arriscada. A consequência menor, desse ponto de vista, era a apreensão dos livros pela polícia política, 90% dos livros que publicamos era esse o destino que tinham” (*). A edição do autor era uma maneira de tentar escapar à ação repressiva. Ribeiro lembra que eram apresentados como editores das obras ou o autor ou personalidades públicas, o que tornava mais difícil a atuação policial. “O livro da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos, de 1972, é um exemplo disso” (*). Os editores eram três personalidades de âmbito nacional (Armando de Castro, Francisco Pereira de Moura e Lindley Cintra), contra quem a polícia dificilmente poderia agir com grande violência. Apenas num caso, o livro "O julgamento dos padres do Macúti", de João Afonso dos Santos e outros autores, editado em agosto de 1973, a PIDE abriu um processo formal contra a editora. José Sousa Ribeiro foi chamado a depor na PIDE do Porto em 24 de abril de 1974, tendo sido uma das últimas pessoas a lá ir. “E nós dizíamos que éramos apenas os distribuidores do livro, os editores eram os advogados que apareciam mencionados no livro, todos personalidades da sociedade portuguesa. Esse era o subterfúgio” (*). 

A ação repressiva de apreensão dos livros também tinha resultados apenas parciais: "Havia um sistema já completamente montado para obviar isso. Nós podíamos publicar um livro que era apreendido imediatamente mas apesar disso vender milhares de exemplares dessa edição. Desenvolvemos a venda mão-a-mão, ou seja, havia uma grande rede de amigos da editora que compravam dez, vinte exemplares, e os revendiam fora do mercado livreiro. Os livreiros, fossem quais fossem as suas ideias, eram extremamente solidários, compravam os livros, punham um em exposição e guardavam os outros, vendiam apenas a quem conheciam. A polícia apreendia o exemplar que estava exposto, mas não os escondidos. Muitas vezes isso até aumentava as vendas, porque havia gente que comprava livros porque eles tinham sido apreendidos. Então os livros circulavam sempre, mesmo aqueles que eram apreendidos" (*). Na verdade, a maior consequência – não sem importância, é claro – de algumas proibições e apreensões de livros era de ordem económico-financeira, gerando muitas vezes prejuízos consideráveis que afetavam a vida da editora. 

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Após o 25 de abril de 1974

Uma terceira fase na vida da Afrontamento inicia-se com o 25 de Abril. O fim da censura, das apreensões e a efervescência política que se iniciou a partir de então tiveram reflexos diretos sobre a atuação da editora: "Logo em seguida ao 25 de Abril fizemos livros com tiragens nunca pensadas até aí. Uma das nossas primeiras investidas então foi publicar a história das zonas colonizadas, digamos assim, dos movimentos de libertação, a História de Angola que o MPLA divulgava, da Frelimo sobre Moçambique, do PAIGC sobre a Guiné. A História de Angola deve ter tido 80 mil exemplares, exportámos uma parte para Angola, mas a um preço declaradamente mínimo. Nunca aproveitámos para capitalizar, nestes casos vendíamos próximos do preço de custo. Prestámos um serviço claramente importante do ponto de vista político, mas nunca perdemos a independência. Sempre quisemos manter a independência, isso pareceu-nos importante após o 25 de Abril" (*). Podemos entender melhor a importância desses livros a partir do comentário, reproduzido a seguir, de Pedro Támen, [em obra publicada] a respeito da obra "História de Angola", do MPLA: "Para o comum leitor português, intoxicado por uma história viciada de imperialismo pateta, este livro é o abrir da cortina para um mundo totalmente novo, nos melhores casos suspeitado mas não conhecido. É Angola vista do outro lado, do lado oposto àquele em que nos colocaram nos tempos da instrução primária e do liceu".

Após o 25 de Abril foram criadas as coleções Libertação dos Povos das Colónias (1974), Luta de Classes (1974), Crítica e Sociedade (1975) e Afrontamento Bolso (1976), entre outras, que assinalavam a ênfase na edição de obras políticas. Tiveram também continuidade as coleções que já existiam, com exceção da Bezerro D’Ouro. Nessa etapa, Marcela Torres, então militante do MES (Movimento de Esquerda Socialista), passou a atuar de forma mais intensa na editora. Por outro lado, a liberdade para editar era também uma situação que trazia novos desafios do ponto de vista comercial. Foi necessário, até certo ponto, redirecionar a editora: "Outros editores começaram a editar coisas de conteúdo político e, portanto, vieram fazer-nos concorrência. Isso teve algum impacto. Decidiu-se que a Afrontamento começasse a abrir-se a outros campos de edição, e não apenas à edição de conteúdo político. Abrimos essencialmente para dois campos, o campo universitário (ciências sociais e humanas) e a literatura infanto-juvenil. Aí passámos a outra dimensão, começámos a estruturar-nos como uma empresa a valer. Em 1975-76 passámos a editar na ordem de 30 títulos por ano" (*). 

Normalmente, as tiragens da Afrontamento após o 25 de Abril giravam em torno dos 3 a 4 mil exemplares. Depois de 1976 começaram a baixar para 2 a 3 mil, em termos médios. No que diz respeito à edição política, a editora manteve um carácter de independência em relação a grupos políticos, e editou obras de várias tendências à esquerda do PCP, mas sem se deixar “aparelhar” por nenhum grupo. “Havia uma certa heterogeneidade entre as pessoas que compunham a editora, havia um certo entendimento nessa heterogeneidade, ninguém quis estragar esse ambiente. Essa heterogeneidade criava uma independência face aos grupos. Mas houve pessoas da Afrontamento que se ligaram a determinados projetos políticos, como o Mário Brochado Coelho, que se ligou à UDP” (*). 

Eis alguns do títulos editados após o fim da ditadura: "Textos políticos", de Amílcar Cabral (1974); "A luta continua", de Samora Machel (1974); "Escravatura. A empresa a saque. O abolicionismo" (1810-1875), de José Capela (1974); "Indústria, ideologia e quotidiano" (ensaio sobre o capitalismo em Portugal), de João Martins Pereira (1974); "Alimentos, saúde e agricultura (crítica da agricultura dominante)", de Claude Aubert (1974); "Povos de Moçambique: história e cultura", de A. Rita Ferreira (1975); "Mobutu, chefe supremo", de Jules Chomé (1975); "A emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores", de Manuel Rodrigues (1975); "A situação da classe trabalhadora em Inglaterra", de F. Engels (1975); "Os bolcheviques e o controle operário", de Maurice Brinton (1975); "O 25 de Abril e as lutas sociais nas empresas", de Maria de Lourdes Lima dos Santos, Marinús Pires de Lima e Vítor Matias Ferreira (1976); "Contribuição para uma alternativa popular à crise da economia em Portugal: textos de apoio da candidatura à Presidência da República de Otelo Saraiva de Carvalho" (1976); "Tortura na colónia de Moçambique, 1963-1974: depoimentos de presos políticos" (1977); "A revolução da Maria da Fonte. Subsídios para a sua história e interpretação", de Joaquim Palminha Silva (1978); "Portugal: a revolução impossível?", de Phil Mailer (1978); "A tradição de resistência em Moçambique: o vale do Zambeze, 1850-1921", de Allen F. Isaacman (1979); "Cultura e revolução em Angola", de Leonel Cosme (1979). Até ao final da década de 1970 os livros políticos tiveram grande peso na produção da editora, mas a partir desse momento foram perdendo espaço, apesar da Afrontamento nunca ter deixado de publicar obras de carácter político — como faz até aos dias de hoje. 

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Dos anos 80 à atualidade

“A partir do princípio dos anos 1980 a editora foi confrontada com questões de outra natureza, questões de viabilidade económico-financeira que têm a ver com opções empresariais”. Isso deveu-se a um certo declínio da linha tradicional de publicação da editora. “A editora descaracteriza-se um pouco a partir daí, até porque a sociedade mudou muito também nesse período. E fomos confrontando-nos com a vida de uma empresa normal, com os altos e baixos dos ciclos econômicos, com as crises, etc.” (*). Nos anos 1980 a Afrontamento adquiriu uma gráfica, como alternativa para “defender a editora das dificuldades do mercado editorial. E temos a gráfica até hoje. E a gráfica desde então foi o principal esteio da permanência da editora”(*). No período entre 1968 e 1980, a Afrontamento publicou cerca de 150 títulos de carácter político. Atualmente, a Afrontamento publica entre 70 e 80 títulos por ano e mantém-se como uma editora independente. José Sousa Ribeiro continua como um dos responsáveis pela editora e faz uma avaliação ponderada sobre o papel da editora desde a sua criação: "Sobretudo antes do 25 de Abril, numa altura em que a informação estava completamente bloqueada em Portugal, a possibilidade de publicar coisas que não eram controladas era extremamente apelativa, era um desafio. E acho que desse ponto de vista levámos isso ao limite no contexto da situação fechada que havia. E isso deu o seu contributo para abrir algumas cabeças. A importância do nosso trabalho foi fazer com que certas coisas se tornassem públicas, que abandonassem a clandestinidade a que estariam reservadas. Não quer dizer que isso tivesse uma importância desmesurada, não foi por isso que caiu o fascismo, mas a verdade é que tudo conflui, o rio engrossa se houver muitos fios d’água a ajudar, e a Afrontamento foi um desses fios d’água. Nunca ninguém quis reivindicar mais do que isso" (*). 

Em 10 de outubro de 2022, quarenta e oito anos depois de se terem estabelecido em julho de 1974 na Rua de Costa Cabral, as Edições Afrontamento mudaram a sua sede para novas instalações mais perto do centro da cidade do Porto, na Rua de Santa Catarina, 895, 2º Dtº.

* Entrevista com José Sousa Ribeiro realizada na cidade do Porto em 24 de março de 2011.

Texto retirado, com alterações de pormenor, de "Livros que tomam partido: a edição política em Portugal, 1968-80", de Flamarion Maués Pelúcio Silva. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2013 (Tese de doutoramento em História Social).